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Foto: Edward Olive |
Desde o primeiro encontro, tudo parece perfeito. O olhar intenso, as palavras doces, as promessas grandiosas. Em poucos dias ou semanas, a conversa já gira em torno de casamento, filhos, uma vida inteira juntos. Parece um amor tão forte, tão verdadeiro, que a ideia de esperar simplesmente não faz sentido. Mas o que parece um conto de fadas pode, na verdade, ser uma armadilha cuidadosamente planejada. Narcisistas têm pressa para casar, e a razão para isso não é amor, paixão ou urgência emocional. É controle.
No início do relacionamento, um narcisista fará de tudo para te convencer de que você encontrou sua alma gêmea. Ele estuda seus desejos, seus medos, suas carências, e se molda exatamente para se tornar a pessoa dos seus sonhos. Esse processo é conhecido como love bombing—uma fase onde a vítima é bombardeada com elogios, atenção e gestos grandiosos. Mas essa fase não dura para sempre. O narcisista sabe que, mais cedo ou mais tarde, sua máscara vai começar a escorregar. Pequenos sinais de egoísmo, manipulação e frieza começam a aparecer, e se a vítima ainda estiver livre, pode perceber o que está acontecendo e se afastar.
E é exatamente para evitar essa fuga que o narcisista acelera o casamento. Ele quer prender a vítima antes que ela perceba no que está se metendo. Para isso, usa frases como "Quando a gente sabe que é pra sempre, não precisa esperar" ou "Casamento é só um papel, mas quero mostrar o quanto te amo". Tudo isso enquanto cria uma pressão emocional para que a vítima diga "sim" sem pensar muito. Se ela demonstra hesitação, ele pode reagir de forma manipuladora—fingindo tristeza, questionando se ela realmente o ama ou até sugerindo que, se não casarem logo, talvez o relacionamento nem faça sentido. Tudo para que a decisão pareça natural, quando na verdade é empurrada goela abaixo.
O casamento, para um narcisista, não é um ato de amor, mas uma prisão psicológica. Depois de oficializar a união, ele se sente dono da vítima. Agora, se sente no direito de criticar, diminuir e controlar cada aspecto da vida dela. Pequenas mudanças começam a acontecer. Antes tão carinhoso, ele passa a ser frio. As palavras doces dão lugar a comentários depreciativos. O que antes era admiração se transforma em desprezo sutil. Mas a vítima, já emocionalmente envolvida e, agora, legalmente comprometida, sente que precisa fazer o casamento dar certo. E é exatamente essa sensação que o narcisista queria criar: um vínculo difícil de romper.
Com o tempo, a manipulação se intensifica. A vítima se vê tentando desesperadamente recuperar aquele amor avassalador do início, sem perceber que aquilo nunca foi real. Ela se culpa por cada briga, acha que está errando, que precisa mudar, que talvez não seja mais tão interessante quanto antes. Enquanto isso, o narcisista se diverte com o poder que tem. Ele sabe que agora é muito mais difícil para a vítima sair—há um compromisso social, talvez financeiro, e em muitos casos, filhos envolvidos. Se a vítima ameaça ir embora, ele pode usar chantagens emocionais, prometer mudar ou até se vitimizar, dizendo que não consegue viver sem ela.
E assim, a armadilha se fecha. O casamento, que deveria ser um laço de amor e parceria, se torna uma corrente que mantém a vítima presa a um ciclo de abuso emocional.